José Renato Nalini

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É sempre bom ouvir o ministro Carlos Mário da Silva Velloso, ex-presidente do STF e homem público atento ao que acontece em seu País.
Em recente programa de TV, ao analisar a situa­ção da Lava Jato, após o desaparecimento do ministro Teori Zavascki, chamou o foro privilegiado de “ex­crescência”, incompatível com a República.
A preservação de foro reservado para determi­nadas autoridades é resquício do Império e sintoma de que ainda estamos inebriados pela “ilusão das honra­rias”. Logo o Brasil verá que isso é desastroso.

A depender das demais delações, se o rol dos 6 privilegiados com o foro aumentar, o STF não terá condições de julgar em oportuno todos os políticos. O tempo do direito é um e o tempo da política é outro.
O STF vai pagar a conta e ser acusado de inefi­ciência, lerdeza, excesso de formalismo e abusador do “juridiquês”.
Na verdade, é tempo de se voltar ao discurso da singeleza e da concisão. Não é possível que as de­cisões judiciais abusem de citações, reproduzam por inteiro jurisprudência que poderia ser apenas citada.
E é também conveniente que o STF procure se aproximar do modelo ianque, raiz e inspiração de nos­sa Suprema Corte, não se assoberbando de competên­cias e atribuições que o tornam disfuncional.
Nos Estados Unidos, a Suprema Corte julga cer­ca de 200 processos por ano.
Lá se leva a sério a seleção de temas constitu­cionais que precisam, efetivamente, de uma decisão do tribunal que é o Guarda da Constituição. Aqui, só no gabinete do ministro Teori aguardam julgamento quase 8 mil processos! É uma carta insuportável.
A Corte Constitucional acaba perdendo prestí­gio se não consegue fazer frente às suas incumbências.
Dentre elas, não deveria ser funcionar como pri­meira instância de crimes comuns, embora perpetra­dos por pessoas providas de maior responsabilidade, pois em regra passaram pelo escrutínio popular.
O ministro Velloso pediu que o pessoal da área do direito e a mídia se interessassem pelo tema e fizessem uma campanha para mostrar que o cenário é ruim para o STF e, pior ainda, péssimo para o Brasil que tem tanta esperança na faxina moral ora levada a efeito pelo Poder Judiciário.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 02/02/2017

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