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No cumprimento de sua missão institucional de apoiar a
preservação da memória diplomática e contribuir para a formação
de opinião pública sensível aos problemas da convivência internacional,
coube à Fundação Alexandre de Gusmão realizar, em 2012,
no marco da programação aprovada pelo Ministério das Relações
Exteriores, os eventos que comemoraram o centenário da morte
do barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira.

Livro: Dom Pedro II, Imperador do Brasil 1

Nesse contexto, merece especial menção a reedição das
Obras do Barão do Rio Branco, publicadas originalmente em 1945,
durante as celebrações do centenário do nascimento de
Paranhos Júnior, que se encontravam há muito esgotadas e cujos poucos exemplares restantes eram de difícil acesso. A nova edição,
publicada pela FUNAG, está também disponível no portal da
Fundação na internet para os pesquisadores e para o público em
geral. Além disso, aos oito volumes originais, acrescentou-se um
nono, que traz importante seleção de artigos de imprensa redigidos
por Rio Branco, inclusive aqueles textos nos quais ele se serviu de
pseudônimos.
A presente reedição da obra D. Pedro II, Imperador do Brasil
segue o mesmo propósito: trazer aos pesquisadores e leitores do
Brasil, dos demais países de língua portuguesa e dos milhares
de nossos leitores em todo o mundo os trabalhos e o pensamento
do patrono da diplomacia brasileira, inclusive por meio de escritos
em que sua autoria, ainda que não esteja explícita, é claramente
atestada.
Os principais biógrafos de Rio Branco confirmam que o
Barão foi o “verdadeiro autor” do livro D. Pedro II, Empereur du
Brésil, assinado pelo escritor e editor francês Benjamin Mossé,
grande rabino de Avinhão, em 1889. Segundo Luís Viana Filho,
“a bem dizer, transformado paulatinamente no verdadeiro autor
da biografia, Paranhos prelibou os efeitos do livro”.
Por sua vez,
Álvaro Lins atesta que “sobre a autoria dessa biografia de D. Pedro II
não resta dúvida nenhuma: ela é de Rio Branco”.
Essa autoria,
ademais, é reivindicada pelo Barão em inúmeros documentos e
reconhecida pelo próprio rabino de Avinhão.
O livro D. Pedro II, Imperador do Brasil compõe junto com a
seção dedicada à História no verbete sobre o Brasil na Grande
Enciclopédia, dirigida por Émile Levasseur, e o Esboço da História
do Brasil, a trilogia dos textos históricos, de caráter geral, mais
significativos da bibliografia de Rio Branco.
Assim, de um lado, a nova edição do livro, que ora tenho a
satisfação de apresentar, complementa o trabalho editorial da
FUNAG de tornar disponíveis todos os escritos que compõem o
conjunto da obra do Barão. De outro, tem ele o mérito adicional de
contribuir para os estudos sobre o Segundo Imperador do Brasil
visto da perspectiva do Patrono da Diplomacia brasileira.
Embora existam várias biografias do monarca, apenas uma
foi revista e reescrita pelo barão do Rio Branco. Como o próprio
reconhece, em carta, diante do texto que lhe fora submetido e que
considerou “um pequeno trabalho ridículo”, teve que reescrevêlo,
“fazer tudo de novo”, e, assim, poder “dizer a nossa gente o
que penso com mais liberdade”.4
Esse fato distingue o trabalho e
o torna único em vários aspectos, inclusive ao permitir ao verdadeiro
autor expressar seu pensamento a respeito do Segundo Reinado
sem precisar identificar­-se, o que poderá ter sido providencial para o
futuro chanceler, cujas vitórias diplomáticas acabariam concorrendo
para legitimar a República.
O primeiro exemplar do livro, dirigido a D. Pedro II, chegou
ao Rio de Janeiro em agosto de 1889. Como sugerido no prefácio
a esta edição pelo ministro Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos,
curador da “Exposição Rio Branco: 100 anos de memória”, a escolha
de Mossé para escrever a biografia do Imperador se deveu ao
seu prestígio como escritor e editor na França, centro cultural
do mundo à época, cuja língua era a adequada para a produção
e mais ampla difusão do conhecimento. Ademais, terá refletido
a proximidade do Imperador com a cultura hebraica, da qual era
profundo conhecedor. Seu interesse histórico e cultural levou-o a
ser o primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar a Terra Santa.
Ironia do destino, o contraste do lançamento de uma obra
enaltecedora das qualidades do Imperador, como herdeiro dos ideais
iluministas da “liberdade, igualdade e fraternidade”, devotado ao
seu povo, tolerante, consolidador da soberania e da integridade
territorial brasileira, com o colapso, no mesmo ano, da monarquia.
Trata­-se de questão que tem dividido analistas e parece ainda aberta
a escrutínio. O próprio monarca inspira juízos antípodas, que vão
de “o maior dos brasileiros” (Rio Branco) a “muito lastro, pouca
vela” (Sérgio Buarque de Holanda). Há mesmo quem o considere
defensor dos ideais republicanos, imperador cidadão, abolicionista
reticente dentro de uma estrutura escravocrata, intelectual e sábio,
em um país em que 80% da população ainda era de analfabetos.
No exame dos registros e manifestações de tantos memorialistas
e historiadores, e no imaginário coletivo, observa­-se hoje a
consolidação de um juízo favorável a D. Pedro II, como um homem
ético, erudito, pesquisador, imbuído de sentido de missão, cujo
comportamento austero marcou seus quase cinquenta anos à
frente do Império. Durante esse período, concorreu para a consolidação
do Estado, a preservação de sua integridade territorial,
a formação do povo e a construção de uma identidade nacional.
Contribuiu, enfim, para o apogeu da monarquia e vivenciou, de
forma surpreendente, o seu colapso.
Os notáveis talentos de Rio Branco tiveram a oportunidade
de aparecer na República, mas ele sempre se achou herdeiro das
tradições da diplomacia do Segundo Reinado, controladas de perto
por D. Pedro II. Este livro é uma homenagem de um admirador,
mas diz muito do biografado e do biógrafo. E ambos merecem ter
suas vidas e obras cada vez mais conhecidas.
inscrição, em 2013, no Registro do Programa de Memória do Mundo da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O imperador encontra­-se associado a um período em que
o País enfrentou sérios conflitos internos e externos e criou
condições que ajudariam Rio Branco a estabelecer, mais tarde, seu
paradigma de política externa, que tanto influiu no século e meio
de paz, orgulho do Brasil e de sua diplomacia.
Sérgio Eduardo Moreira Lima

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