Na Amazônia, Florestas e manguezais do nordeste do Pará abrigam pesquisas científicas e ações socioambientais do Instituto Peabiru com ganhos para a conservação da biodiversidade e qualidade de vida das populações locais
Entre as áreas que já sofrem os maiores impactos da mudança climática global, a Amazônia banhada pelo Atlântico no Pará – hoje dominada por áreas degradadas – é também a região que guarda importante remanescente da floresta original de terra firme e os maiores manguezais contínuos do planeta, com modos de vida tradicionais.
“É uma área singular e importante pelos serviços ambientais na atual crise climática, onde já se observa redução de chuvas e aumento das temperaturas. Se há uma região na Amazônia em que se visualiza essas mudanças, ela está no nordeste paraense”, afirma João Meirelles, diretor-geral do Instituto Peabiru, organização sediada em Belém, que completa 25 anos com contribuições para a agenda da biodiversidade na Amazônia.
Na Ilha de Ipomonga, em Curuçá (PA), a 138 km de Belém, a instituição apoiou pesquisas científicas do Museu Emilio Goeldi que descobriram a existência de uma rara floresta que resistiu à longa história de devastação desde os tempos da colonização: a chamada Mata Amazônica Atlântica.
São 12 quilômetros quadrados que reúnem pelo menos 130 espécies em 44 famílias botânicas, conforme catalogado pelos cientistas no projeto Casa da Virada, patrocinado pela Petrobras. Na composição da flora, algumas espécies apresentam valor madeireiro, como o tauari, o piquiá e o paricá; e outras são importantes pelo uso alimentar, a exemplo do bacuri e da bacaba. Há, ainda, as plantas utilizadas para fins medicinais (caso da copaíba) e como material para pesca artesanal (envira).
Não havia registros deste tipo de vegetação na Amazônia: uma área com espécies e aspectos de fisionomia vegetal comuns à Mata Atlântica, floresta tropical típica das regiões nordeste, sudeste e sul do país, só que em pleno bioma amazônico. Segundo Meirelles, “é comum na ciência a identificação de novas espécies de flora e fauna, mas não de novos ecossistemas ou fitofisionomias”, como ocorreu nas pesquisas realizadas neste ponto do território amazônico próximo ao litoral, também chamado “Salgado Paraense”, uma das principais áreas de atuação socioambiental do Peabiru. “É preciso dar continuidade às pesquisas para saber se há outros remanescentes na região amazônica litorânea até São Luis, no Maranhão.”
“Constatamos uma área especial, onde vale aprofundar as pesquisas para que sejam tomadas medidas de conservação”, avalia Dario Dantas, pesquisador do Museu Emílio Goeldi. Embora localizado na região da Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, abrangendo praias e manguezais, o remanescente florestal da Ilha de Ipomonga não se encontra legalmente protegido. A pesquisa identificou vestígios de degradação ambiental pela caça, introdução de búfalo, extração de madeira, queimadas recorrentes e manejo inadequado da coleta de frutos de bacuri.
A COP 30, conferência climática da ONU que será realizada em 2025 em Belém, deverá trazer maior visibilidade para os desafios da região costeira da Amazônia no desenvolvimento sustentável e controle do desmatamento.
Dados do MapBiomas indicam que o nível de degradação nos maiores municípios entre os 34 que compõem a região nordeste paraense é inferior à média estadual. Já bastante impactado ao longo da história, Curuçá perdeu 13,6% de cobertura florestal desde 1997, apresentando 47,6 mil hectares com vegetação nativa em 2022 – 76,6% do território municipal. Em Bragança, a perda foi de 32% neste período, mas a área desmatada apresenta contínua redução desde 2019. No Estado do Pará como um todo, a perda de florestas foi de 11,8% no mesmo período, com expansão acentuada nos últimos anos. O desmatamento em 2022 foi 64,7% maior do que em 2019.
Manguezais resistem
Na Amazônia próxima ao mar, as florestas que restaram ou se regeneram convivem na paisagem com os maiores manguezais contínuos do planeta. Devido ao grande volume de carga orgânica em sedimentos e nutrientes levados pela vazão dos rios Tocantins e Amazonas até a foz, a zona costeira amazônica é sui generis. Lá, os manguezais são mais extensos e exuberantes do que no restante do litoral brasileiro.
“Os manguezais são extremamente resilientes; jamais sucumbiram às mudanças de atividades na floresta em terra firme na região”, enfatiza Marcus Fernandes, pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Bragança, também coordenador do projeto Mangues da Amazônia. A iniciativa foi realizada entre 2021 e 2023 pelo Peabiru em parceria com o Laboratório de Manguezais da UFPA e a Sarambuí, organização local, com o patrocínio da Petrobras.
O maior desafio está no uso sustentável dos recursos desse ecossistema, com práticas de manejo que garantam tanto a renda como a conservação ambiental, com justiça climática. O Mangues da Amazônia realizou atividades de educação e sensibilização junto a comunidades extrativistas do litoral paraense, dedicadas principalmente à pesca artesanal e captura de caranguejo-uçá, beneficiando 6 mil pessoas. Em paralelo, pesquisas científicas desenvolveram métodos inéditos de restauração de áreas degradadas de manguezais, além da medição da captura e emissão de carbono.
Sobre o Instituto Peabiru
O Instituto Peabiru é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) brasileira, fundada em 1998, que tem por missão facilitar processos de fortalecimento da organização social e da valorização da socio biodiversidade. Com sede em Belém, atua nacionalmente, especialmente no bioma Amazônia, com ênfase no Marajó, Nordeste Paraense e na Região Metropolitana de Belém (PA). É uma das organizações realizadoras do projeto Mangues da Amazônia.