Danilo Bueno
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Supremo Tribunal Federal reduz-se à insignificância ao dar salvo-conduto a um condenado por corrupção passiva, negando a Justiça ao Povo Brasileiro. Vamos pedir piedade, Senhor, piedade, pra essa gente careta e covarde. Senhor, piedade. Lhes dê grandeza e um pouco de coragem.
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Em meados de 1988 Cazuza lança um álbum extremamente político chamado “Ideologia”. Na música tema, ele canta: “Ideologia, eu quero uma pra viver!”, hoje, 30 anos após o lançamento de seu trabalho icônico, ainda temos um país sem uma ideologia e cercado por um oceano de corrupção que aprisiona-o por todos os lados. Não é a piscina que está cheia de ratos mas, as engrenagens do Poder, em todas as suas esferas.
O nosso presente (e quiçá o futuro) “reflete o passado”, fazendo ecoar ideais absolutistas, recrudescedores de direitos presentes em um Estado Revogatório de Exceção (quem não se lembra de Erasmo Dias?). Há quem diga que este comportamento é a falha de um sistema de ensino fracassado que não privilegiou o ensino da História quando na verdade está mais para a chamada Síndrome de Estocolmo, quando a vítima se apaixona por seu algoz.
Vivemos um tempo tão absurdo que estamos desejosos pela arbitrariedade. A liberdade foi tamanha e tão desmedida que os agentes públicos que deveriam vigiar e proteger a coisa pública, confundiram-na com libertinagem e saquearam o Poder para locupletarem-se de vantagens ilícitas, bordéis pagos com dinheiro público e prostitutas travestidas de Justiça. Nada representa mais o Brasil atual do que a figura de um país cheio de miseráveis que vagam pelo mundo derrotados, sementes mal plantadas que já nascem com cara de abortadas. Pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não têm! Senhor, piedade!
Quem é o culpado por tudo isso? Quem é o vilão que roubou o sonho e a esperança? “O pensamento é a guerra, a guerra civil do ser”, combatida sem ter sido declarada, vivendo a superficial realidade descolada da verdade. Uma ilusão repelida ao mesmo tempo que agarrada, como um sopro de credulidade que possa dar a mínima confiança. Mas, tudo o que é superficial e artificial, arruína-se em um instante. A realidade reaparece e zomba da cara do otimista crédulo em um futuro melhor.
Ontem, foi este o sentimento de dezenas de milhões de brasileiros que têm ainda alguma razão e um desejo por salvação deste sofrido pedaço de chão. Todos tivemos de “engolir o sapo barbudo”, responsável pelo fracasso e pelo atraso deste país por não menos que 50 anos, se contarmos todos os efeitos de seus malefícios. Não é fácil suportar a ânsia advinda da podridão que nos fora servida como um Supremo aperitivo pois, o jantar ainda não está servido, ficou marcado para pós 04 de abril. Afinal, é da tradição brasileira festejar os sinais de vitória, mesmo que seja a vitória da hipocrisia, do atraso, da desfaçatez, da ganância desenfreada, da morte seca provocada pela corrupção protegida como medida sistêmica por aqueles que deveriam combatê-la.
E assim, o baile segue… Tim-tim! A tua Corte agradece, um brinde! O nosso astro merece. Ao teu fã-clube fiel, dá autógrafo em talão de cheques. Big boss… Tua mão aberta enobrece, dignifica-nos que sonhamos em espécie. Classic vira rolex, sob o luar do teu deck só festa “relax”, boca livre na certa. Robin Hood gentil da galera, protetor das artes práticas valorizando quem sabe levar vida fácil, fácil… Vida fácil.
Mas, como o resto da “brasilidade”, também não me convidaram pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer. A pagar sem ver toda essa droga que já vem malhada antes de eu nascer. Não me ofereceram nenhum cigarro, fiquei na porta estacionando os carros. Não me elegeram chefe de nada… O meu cartão de crédito é uma navalha. Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim. Brasil, qual é teu negócio? O nome do teu sócio… Confia em mim!
A linguagem figurativa utilizada por Cazuza na letra “Brasil” é uma descrição fidedigna dos poderosos e da sociedade. O brasileiro, simples, tratado com desprezo, vivendo à parte do luxo, com sua vida marginal (em ambos sentidos) mas, tal e qual ele suplica na letra: “mostra a sua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim”, quem comprou nosso Congresso, a Presidência da República, o Supremo Tribunal Federal e os outros níveis da administração pública? À quem interessa nosso atraso, nosso fracasso, nossa ação coadjuvante?
É Cazuza… mais que um visionário, você foi um grande vidente do futuro em 30 anos! Se estivesse entre nós, no dia de hoje, qual seria o tamanho de sua indignação e vergonha? Também entoaria o coro dos desesperançosos? Também pediria pela rendição da democracia? Será que sonharia em ver a Pátria endurecida?
Até mesmo o ex-militante da luta armada, Fernando Gabeira (que participou do sequestro do embaixador americano, Charles Elbrick, em 1969) não tem visto saída senão pela adoção de forças de intervenção no Estado. Os fatos recentes de nossa história imediata faz-me lembrar muito bem de um discurso do General Hamilton Martins Mourão em pronunciamento público em Loja Maçônica Grande Oriente em setembro de 2017, no Distrito Federal, onde afirmou que entre os deveres do Exército Brasileiro está a garantia do funcionamento das instituições e da lei e da ordem e que a intervenção militar que está prevista na Constituição Federal de 1988 é uma possibilidade no caso de a crise política existente no país fugir do controle. (Os três próximos parágrafos são um destaque da Folha de São Paulo, do dia 17/09/2017 sobre a palestra proferida pelo General Mourão à Loja Maçônica do DF em 15/09/2017.)
Mourão, naquela ocasião, disse que poderá chegar um momento em que os militares terão que “impor isso” [ação militar] e que essa “imposição não será fácil”. Segundo ele, seus “companheiros” do Alto Comando do Exército avaliam que ainda não é o momento para a ação, mas ela poderá ocorrer após “aproximações sucessivas”.
“Até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso.” – disse o General de Exército, hoje na reserva.
O general afirmou ainda: “Então, se tiver que haver, haverá [ação militar]. Mas hoje nós consideramos que as aproximações sucessivas terão que ser feitas”. Segundo o general, o Exército teria “planejamentos muito bem feitos” sobre o assunto, mas não os detalhou.
O recado dado foi bem claro, mas, houve quem preferiu ignorar e o cenário descrito naquela ocasião, aos poucos vai se moldando. Algumas fontes afirmam que em breve outros dois Estados da Federação sofrerão ações similares às do Rio de Janeiro, de “Intervenção para Garantias da Lei e da Ordem”, que também servem de um bom treinamento para o que pode estar por vir.
Vamos pedir piedade, Senhor, piedade!
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