“As palavras são como moedas: uma pode valer por muitas, e muitas não valer por uma” Francisco de Quevedo
A redução da meta de inflação levada à cabo nestes últimos anos e que culminou com a recente decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) em estabelecer uma taxa de apenas 3,5% para 2022, reacende um velho debate tupiniquim sobre as vantagens e desvantagens de se ter uma inflação mais baixa.
Quando da implementação desse sistema de política monetária em 1999, o número a ser perseguido pelo Banco Central oscilou bastante antes de ser estabelecido em 4,5% em 2005, taxa que perdurou até o ano passado, tendo sido reduzida, desde então, para 4,25% neste ano, 4,00% para 2020 e 3,75% em 2021. A meta de 2022 nos coloca, finalmente, ao lado das outras nações emergentes, cuja média de taxa objetiva oscila pouco abaixo desse número. Há certa resistência de muitos economistas em aceitar essa proposição, pois consideram que uma tolerância maior com a inflação permitiria que a economia crescesse mais, gerando mais empregos.
O raciocínio utilizado é o seguinte: metas mais elevadas de inflação permitem que o Banco Central opere a política monetária com menor rigidez, ao contrário de metas menores, que exigiriam juros mais elevados para manter a variação dos preços em patamares mais baixos.
Assim, poder-se-ia ter juros reais menores, o que aceleraria os investimentos e o ritmo de crescimento da economia e, por consequência, elevaria o nível de emprego. Como sabemos, o Brasil é um velho viciado em inflação e essa vivência produziu uma corrente de economistas que considera perverso o estabelecimento de metas muito baixas. Como disse certa vez um ativo participante desta corrente, “um pouco mais de inflação não faz mal a ninguém”.
Essa visão foi, durante muito tempo, corroborada pela chamada curva de Phillips, criação do economista neozelandês A.W. Phillips na década de 1950, que estabelecia uma correlação entre taxa de desemprego e inflação: quanto maior a primeira, menor a segunda, e vice-versa.
Criava-se assim o embasamento para se aceitar o postulado de que inflações mais elevadas eram desejáveis, uma vez que permitia à economia operar com menor desemprego. Esse raciocínio, no entanto, foi colocado por água abaixo pelos trabalhos de dois importantes economistas norte-americanos, Edmund Phelps e Milton Friedman, nos fins da década de 1960, cujas teses foram comprovadas pelo desempenho da economia dos Estados Unidos ao longo dos anos 1970, quando enfrentou uma expressiva recessão com as taxas de inflações mais elevadas da sua história, fenômeno que ficou conhecido pelo nome de estagflação. Ou seja, mais inflação não criou mais emprego.
Outra experiência digna de nota ocorreu no governo Dilma, quando uma política monetária excessivamente frouxa, aliada a uma política fiscal muito expansionista, permitiu que a inflação permanecesse sistematicamente acima da meta, mesmo com várias importantes tarifas públicas tendo seus preços controlados. A inflação média durante os quase seis anos do governo Dilma, incluindo a taxa de dois dígitos de 10,6% de 2015, quando as tarifas foram ajustadas, foi superior a 7%, acima do teto da banda de intervalo da política. O resultado foi o naufrágio da economia, a queda dos investimentos e o aumento do desemprego − consequências sentidas até hoje.
A inflação, como já vivenciamos, é um grande complicador para a vida das famílias e empresas. Quanto mais elevada, mais atrapalha o cálculo econômico: como podem os agentes econômicos fazer planejamentos quando os preços sobem de maneira instável? Mas o maior problema, no entanto, é a inflação ser uma variável com atuação incisiva na distribuição de renda, prejudicando os credores em detrimento dos devedores e, principalmente, penalizando aqueles que não conseguem se proteger da alta dos preços, ou seja, os mais pobres, justamente os que esses economistas dizem defender. Moeda estável é um patrimônio da nação.
Excelente artigo !!! Parabéns !
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