Jacir Venturi
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Os dois maiores eventos da matemática mundial têm o Brasil como palco: o primeiro foi a Olimpíada Internacional da Matemática, realizada no Rio de Janeiro em julho do ano passado, com estudantes representando 110 nações; o outro evento, também no Rio, ocorrerá em agosto deste ano: é o Congresso Internacional da Matemática, com a participação prevista de 5 mil a 7 mil matemáticos de uma centena de países.
Esse congresso ocorre de quatro em quatro anos, e nele serão agraciados os ganhadores da Medalha Fields, similar a um Nobel da Matemática. Laureou-se com a medalha de ouro o brasileiro Artur Ávila em 2014, e para este ano o Brasil tem um forte candidato: Fernando Codá Marques, que trabalhou por 11 anos no Impa e hoje é professor da Universidade de Princeton.Por sediarmos esses importantes eventos, 2017 e 2018 foram cognominados como o Biênio da Matemática, conforme lei federal de autoria do deputado Alex Canziani.
E, se não bastasse esse protagonismo internacional, no início deste ano o Brasil passou a integrar o grupo de elite da Internacional Mathematical Union (IMU), criada em 1920 e composta por 76 países-membros. Esse grupo, formado por dez nações, representa o topo do ranking de desenvolvimento em pesquisa matemática. Para o diretor do Impa Marcelo Viana, “é como se tivéssemos subido para a primeira divisão se houvesse um campeonato mundial de matemática”. O Brasil hoje é responsável por 2,35% da produção mundial de matemática.
Conquanto esses eventos internacionais lancem luzes de ribalta sobre o Brasil, não podemos nos esquecer da base construída diariamente nas escolas de todo o país. Diretores e professores são, assim, convidados a inscrever seus alunos na 14.ª Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP), prova criada pelo Impa em 2005. No ano passado, graças à ampla divulgação da mídia e dos professores, a OBMEP foi classificada como a maior competição estudantil do Brasil, com 18,2 milhões de alunos inscritos do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio.
As inscrições devem ser feitas pelo site até 2 de abril, e a prova da primeira fase será aplicada em 5 de junho, na própria escola. Ademais, desde o ano passado, além das instituições públicas, puderam participar também as escolas privadas, cujos resultados serão apresentados em dois grupos distintos, na proporção dos inscritos. Importante: não haverá ranking de classificação entre as escolas e todo aluno deve ser instigado a participar. Essa prova da primeira fase contém 20 questões de múltipla escolha; além de conteúdos curriculares, prioriza a lógica, o raciocínio crítico e a criatividade.
A Olimpíada de Matemática contribui para desenvolver um ambiente de cultura e amor à “rainha e serva de todas as ciências”, identifica jovens talentosos e promove a inclusão social. É um ganha-ganha, e são pertinentes as referências ao estudo promovido pelo ex-presidente do Inep Chico Soares, segundo o qual as escolas que regularmente participaram por anos seguidos dessa competição apresentaram melhoras de 26 pontos na Prova Brasil, o equivalente a 1,5 ano de escolaridade extra.
Eis o grande paradoxo! Sobejamente conhecidos são os resultados do desempenho sofrível dos nossos escolares nas avaliações internas, ou quando se coteja com outros países. Se há uma ponta vistosa que merecidamente enleva e orgulha a matemática brasileira, formada por estudiosos denotadamente aguerridos, há em contrapartida uma grande massa de estudantes – a parte submersa desse iceberg – que precisa emergir. Ou seja, histórias de sucesso convivendo com o problema crônico do ensino da disciplina.
Para o diretor do Impa Marcelo Viana, o nosso professor, em sua maioria, tem uma formação deficiente em conteúdo e método de ensino. Viana vai além: classifica o ensino na maioria da de nossas escolas como “massificador e chato”, baseado na memorização e imposição de conteúdos – “justamente o que a matemática não é”.