Rodrigo Augusto Prando
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O Presidente Jair Bolsonaro discursou na abertura da Assembleia da ONU
Havia enorme expectativa se haveria, por parte de Bolsonaro, uma fala mais amena, um tom mais conciliador, capaz de amenizar o desgaste na imagem internacional do Brasil, especialmente, depois dos dados relativos às queimadas e desmatamento na região amazônica e, também, da tensão com países europeus, França e Alemanha à frente. Quem esperou moderação, continuará esperando.
O discurso de Bolsonaro, perdoem o pleonasmo, foi bolsonarista. E isso significa que que sua fala foi, preponderantemente, ideológica. Ataques desferidos contra: Cuba, Venezuela, o socialismo, o Foro de São Paulo, o Cacique Raoni, as Ongs, o “ambientalismo radical”, o “indigenismo ultrapassado”, o politicamente correto, a imprensa internacional, a ideologia de gênero, a França, a Alemanha e, no limite, o globalismo. Sua linha discursiva, de ataque, tem o DNA olavista, sem sombra de dúvidas. Um espaço de projeção global que poderia ter sido ocupado com mais racionalidade, como, por exemplo, para explicar que, sim, desmatamentos e queimadas sempre ocorreram, mas que, embora tenham aumentado, o governo estaria atento e firme no propósito de defender a floresta amazônica, sem negligenciar nossa soberania. No entanto, ao defender, atacou e acusou, como sempre, de que países buscam as riquezas que possuímos e que o interesse ambiental é puro jogo de cena, de uma grande conspiração globalista. Bolsonaro fez questão de mostrar alinhamento não com os EUA, mas com Trump, sendo este citado pelo presidente brasileiro. As questões econômicas, reforma da previdência, avanço no campo da liberdade econômica, a pujança de nossa agricultura, temas, todos, que poderiam ser melhor explorados foram citados superficialmente, perdendo, com isso, a chance de acenar aos países e potenciais investidores. Aliás, Bolsonaro fala e cria problemas, cabendo à Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, usar de dons contorcionistas para desfazer o mal-estar criado e não trazer os prejuízos da retórica presidencial para o bojo do agronegócio. Na tribuna, acompanhando o discurso brasileiro, estavam o Chanceler Ernesto Araújo, a Primeira-Dama, Michelle Bolsonaro e um de seus filhos, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro. Eduardo, inclusive, filmava o pai-presidente e, certamente, o discurso será recortado em muitos trechos para inserções nas redes sociais e, quase sempre, podemos reparar que a fala traz aspectos que podem terminar em algo lacrador, do “mito” que continua a dar seu recado, agora, para o mundo.
Em síntese, no discurso de Bolsonaro na ONU sobrou elementos ideológicos e ataques e confirmou-se seu estilo de governar confrontando inimigos, internos ou externos, reais ou imaginários. Foi um discurso capaz de deixar irradiantes os bolsonaristas e irritadíssimos os críticos do presidente. Não se pode, no entanto, acusar o presidente de ter mudado sua fala ao sabor da plateia. Falou aquilo que todos aqui, conhecemos. Assim, projetou suas palavras, ideias, valores e desejos muito mais para seu público cativo, que lhe é fiel, do que para os líderes presentes à ONU. O tom conciliador não veio, talvez nunca chegue, pois, seu estilo é e será esse. Ganha pontos no universo bolsonarista, nas redes sociais e nas ruas, mas afasta-se de potenciais parceiros no plano internacional e confirma, internamente, sua predileção para o extremo, distanciando-se do centro.
Sobre o autor
Rodrigo Augusto Prando é Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.
Sobre o Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.
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