Ao mesmo tempo em que observamos o incremento sem precedentes das pressões que ameaçam a agenda de proteção do meio ambiente, jovens em todo o mundo despertam para uma percepção de que, sem veementes protestos e cobranças que promovam ações concretas para frear o desatino dos tomadores de decisão, o mundo que estão recebendo tem poucas chances de lhes garantir uma boa qualidade de vida ou mesmo a própria sobrevivência.
Apesar das muitas evidências que demonstram a necessidade de mudanças, seguimos a toada da economia tradicional, norteadora irredutível do que e de quanto precisamos demandar do planeta; como fonte inesgotável de insumos para atender um mercado que precisa estar sempre em crescimento. A busca efetiva por soluções que permitam equilibrar essa equação insustentável, posicionando a economia dentro de uma capacidade limitada de expansão – conforme o que a biosfera possa suportar –, ainda não está no centro das prioridades.
Ao contrário, temos proporcionado um protagonismo exploratório que gera impactos ambientais crescentes a despeito do surgimento de novas tecnologias, capazes de minimizar os efeitos negativos de nossas atividades no planeta. É evidente que se continuamos a crescer e consumir cada vez mais, reduzimos os efeitos alardeados a partir dessas melhorias tão virtuosas.
Ao fundamentar a busca pelo bem-estar numa espiral infinita de agregação de bens e no aumento do consumo, sem responsabilizar-se pelas consequências absurdas dessas atitudes, uma fração significativa dos mais de 7 bilhões de seres humanos que habitam o planeta Terra demonstra uma impressionante e perigosa desconexão com a realidade. Em vez de reagirmos às ameaças prementes que decorrem das mudanças no meio ambiente, nossa postura corrente é de assimilá-las com ceticismo e normalidade, gerando o menor alarde possível.
Na realidade, eventos climáticos extremos vêm sendo cada vem mais intensos e frequentes. E requerem processos de adaptação cada vez mais custosos. Os enormes prejuízos sociais e econômicos decorrentes desses fenômenos são considerados uma “contingência natural” – uma fatalidade. Por outro lado, pouco desse esforço de enfrentamento é destinado a minimizar, por exemplo, a continuada destruição de áreas naturais ou as emissões de gases pela queima de combustíveis fósseis. Esses, os principais fatores que ocasionam o aquecimento global e seus efeitos desastrosos.
Também damos muito pouca atenção à perda dos serviços ecossistêmicos, gerados a partir da existência de uma porcentagem significativa e suficiente de áreas naturais bem conservadas. A água é certamente o bem de valor mais reconhecido nesse aspecto. Países como o Brasil carregam toda sua história de colonização a partir de atos de barbárie contra o patrimônio natural. Tão intensos, sem controle e que nunca cessam, tamanha a força econômica e política que impõe o desatino do continuado processo de degradação ambiental.
Mesmo assim, reconhecidos avanços das últimas décadas proporcionaram em nosso País a construção de legislações robustas para regrar o uso e proteção do meio ambiente. A luta exemplar de poucos brasileiros gerou um arcabouço legal invejável e proporcionou a criação mais recente do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Criamos, nas últimas décadas, milhares de áreas naturais protegidas, públicas e privadas, visando garantir a conservação da biodiversidade, que neste momento vêm sendo ameaçadas.
Estimular os jovens ao exercício da cidadania não teria momento mais oportuno do que o atual: com um cenário caótico recentemente implantado, que incrementa os riscos dos problemas ambientais crescentes que vivemos. Tal fato deve ser recebido como uma séria agressão. Mas também pode ser o estopim para refletir sobre o que representa o bem comum e a busca por respostas a um amplo conjunto de problemas criados pela nossa falta de atenção com a proteção ao meio ambiente.
Como admitir o envenenamento criminoso por dezenas de tipos de agrotóxicos proibidos na maioria dos países, contaminando os solos, os rios e nossa alimentação? Como aceitar atividades minerárias que geram passivos que trazem o terror e destruição previsível a centenas de comunidades? Como permitir a continuidade da destruição de áreas naturais para a expansão especulativa e desnecessária da exploração madeireira, da agricultura e da pecuária? Como é possível ameaçar e desvalorizar as Unidades de Conservação do Brasil, um patrimônio natural que representa a essência de nossas raízes, capaz de gerar renda e empregos por meio de atividades de turismo de natureza? Por que discriminar e contestar os direitos de comunidades indígenas e tradicionais? É aceitável assimilar a aprovação de leis que liberam a caça em nosso País? E assim por diante…
Está com todos nós – em especial a partir de uma postura de maior contestação dos jovens – a demanda urgente de lutar por mudanças que são muito óbvias, mas ainda distantes de uma agenda de prioridades; tamanha a transgressão de gestões públicas cronicamente entregues às premissas do desenvolvimento a qualquer custo.
Não podemos ser um País tão medíocre que se vende barato com slogans como “Agro é Tudo”. Um lugar sem respeito às leis, sem respeito aos limites éticos, sem respeito ao próximo, onde a coerência e o bom-senso são qualidades desmerecidas. Não podemos continuar vivendo de resultados imediatos e falseados, que geram inacreditáveis passivos impostos a toda a sociedade e os contabiliza amargamente.
Esperamos que os jovens de todas as idades reflitam e abram espaço de contestação e resistência nesta triste e sombria Semana do Meio Ambiente, “comemorada” entre 1º e 5 de junho. Que usem como inspiração o exemplo de dois ambientalistas ativos, com um rico currículo de conquistas e de excepcional perseverança: dona Íris Bigarella, de 96 anos, e o professor Alceo Magnanini, de 93, que diariamente mantêm-se na luta para tornar este País um lugar melhor a todos os seus filhos e para a Mãe Natureza. São um exemplo de vida, de dignidade e de amor pelo Brasil e pelo planeta. E, por suas atitudes, mantêm-se mais jovens do que muitos de nós.
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