Mas quem é exatamente livre em um ambiente no qual o jogo da geopolítica não respeita fronteiras ou autodeterminação dos povos?
Sabe-se hoje que os ares do globalismo não são tão naturais como poderia supor Bill Clinton. Segundo a revista “The Economist”, Clinton denominou a globalização como “o equivalente econômico a uma força da natureza, como o vento ou a água”. Mas hoje se compreende que não é tão fácil assim.
Se Clinton colaborou para uma forte agenda global, por outro lado os empregos migraram para o exterior e Trump foi eleito exatamente para trazê-los de volta ao americano médio. O fato é que Trump obteve êxito quanto ao crescimento do emprego, além de ter conduzido uma reforma tributária que reduziu impostos de empresas e pessoas. O custo disso tudo na despesa pública só o tempo dirá.
Por aqui, ainda não se chegou a um termo final sobre a redução de tributos que melhorem a capacidade de produção e consumo de quem realmente movimenta a economia. Pelo contrário, simulacro de CPMF sempre aparece como uma tentação recorrente dos agentes políticos.
Em que pese Trump e sua epopeia nacionalista contra os chineses, a presença de países em blocos mais ajuda do que atrapalha o Brasil.
É o caso do Mercosul. A América do Sul deve assumir seu lugar como fornecedora de recursos naturais para o globo, não só “in natura”, mas como manufaturados, isso em colaboração para a alavancagem dos demais setores da economia. O bloco possui água, petróleo, gás, produtos agrícolas dos mais variados, pecuária, dentre outros bens. Talvez falte apenas uma boa rota de saída para o pacífico com a ampliação do bloco.
Mas quem é exatamente livre em um ambiente no qual o jogo da geopolítica não respeita fronteiras ou autodeterminação dos povos? A independência do Brasil, bem como dos demais países do bloco, passa por reconhecer que há interdependência destes membros por estarem nas mesmas condições sociais e econômicas. Também deve estar presente a compreensão da importância da união de forças destes países. Mas para isso acontecer é imprescindível que haja respeito incondicional às instituições, tanto por seus membros, quanto pela sociedade civil em cada membro do bloco.
Não se pode mais agir ao sabor do grupo político que esteja no governo, mas com o estabelecimento de uma real política de Estado e agenda de bloco. A democracia, ao contrário de algumas vozes que teorizam de forma divergente, continua a pedra de toque para o desenvolvimento social e econômico.
Os acontecimentos recentes envolvendo a Amazônia, ressalvando-se nossa reconhecida responsabilidade interna, mostram o apetite dos atores internacionais quanto aos recursos naturais do Brasil e da América do Sul. De pronto, ameaças veladas e explícitas de retaliação surgiram, ora embargando negócios com o Brasil, ora com o Mercosul.
Isso tudo demonstra que nossa independência não está imune aos interesses dos blocos e potencias estrangeiras. Por isso, é necessário reconhecer que para termos protagonismo necessitamos ser profissionais, com perdão do mau uso da palavra, quando se tratam das relações internacionais, além de unidos em bloco para nos fazermos presentes.
A Venezuela é o exemplo mais concreto do que pode acontecer com a soberania e respeito em um país dito “independente”, mas isolado na região, com a “imunidade” democrática e institucional comprometida. Portanto, não adiantará bradar por nossa soberania enquanto nos digladiarmos internamente e não atuarmos firmemente em bloco.
Caso contrário a banda continuará cantando: “procuramos independência, acreditamos na distância entre nós”, como diria Dinho Ouro Preto e seu Capital Inicial.
Pingback: Os desafios da cabotagem - Cota Jurídica